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Décio Galina

Volto para pagar o suco e encontro o carro sujo com meu sangue na roda

Décio Galina

08/12/2017 08h00

Arnaldo Francelino ao meu lado no Bar e Lanches Meu Rico Português

Precisava pagar o suco de melancia que tomei semana passada antes de desmaiar, bater a cabeça na roda de um carro estacionado e partir para o hospital de táxi, sem pedir para fechar a conta. Precisava também retornar ao local dos fatos, em Pinheiros, para agradecer a turma que me levantou três vezes do chão, não ligou para o corte e estancou a mina de sangue na parte de trás da minha cabeça com gelo. Enfim, era necessário virar a página e não evitar o pedaço onde passei pelo primeiro apagão (triplo!) da vida.

Fernanda e Pedro: chapas da Trip Editora com quem almocei na semana seguinte à síncope

Antes de ir ao Bar e Lanches Meu Rico Português, na esquina da Teodoro com a Francisco Leitão, refiz outra parte do roteiro da quarta-feira anterior. Almocei com dois amigos dos bons tempos de Trip Editora: Pedro, editor de Revista Personnalité e camarada com que assisti aos jogos decisivos da campanha do hepta do Timão berrando pela janela do apartamento dele; e Fernanda, responsável por uma série de vídeos bacanas que colocamos em pé tanto para Personnalité como para a Audi Magazine. Em vez do Giggio, fomos ao Consulado Mineiro, onde voltei a comer bem, mas evitei caipirinha ou outras bebidas alcóolicas – o calor do dia era muito semelhante ao do da semana passada.

Assim que cheguei fui reconhecido por uma funcionária que, com a maior naturalidade do mundo (como se isso nem fosse uma coincidência bizarra), soltou: "Ah, o carro onde você bateu a cabeça está estacionado no mesmo lugar. E dá uma olhada na roda, pois o seu sangue ainda está lá." Oi? "Sim, foi bem ali que você bateu."

Marcas de sangue da semana passada, quando desmaiei e bati a cabeça nesse carro

Cheguei mais perto do jipe preto da Suzuki, com placa do interior de São Paulo, e dei aquele sorrisinho amarelo ao me imaginar com o corpo desfalecido, todo torto, e a cabeça enfiada naquele automóvel – que, em uma última análise, foi um santo carro, afinal, não fiquei com sequela alguma. Típica cena que, se fosse em um filme, a gente acharia o roteiro um pouco forçado.

E, para provar que a vida real é sempre uma história pronta para uma ficção manjada, claro que o funcionário que mais me ajudou (e que estava de folga nessa quarta) se chama… Deusimar. Quer dizer, meu anjo da guarda não agiu sozinho, graças a Deus. Como sigo fazendo exames investigando se há algum parafuso fora do lugar que tenha causado minha queda (por ora, dois neuros deram o mesmo diagnóstico: tive uma síncope – perda dos sentidos por má irrigação do sangue no cérebro), achei uma boa tomar outro suco de melancia para eliminar da lista esse possível vilão.

O suco estava ótimo, a visão não embaçou, não fiquei tonto e fui caminhando, a passos firmes, tomar um sorvete no Frida & Mina para celebrar o fato de nada grave ter ocorrido na queda, antes de buscar o Nico na escola. Aproveito o ensejo para agradecer as mensagens de carinho enviadas para o Face e para esse blog. Mesmo antes de os resultados da penca de exames que estou fazendo ficarem prontos, já sei que o principal diagnóstico é acostumar com a ideia que farei 45 anos em menos de um mês e agora os limites são outros. Tudo certo, vamos nessa.

Sobre o autor

Paulistano de 1973, Décio Galina fez jornalismo na Cásper Líbero no início dos anos 1990 – os computadores chegavam à faculdade na época em que ele suava para passar nos testes do curso de datilografia do Senac. Trabalhou com Caco Barcellos na pesquisa do livro “Rota 66”. Passou alguns meses na “Gazeta Esportiva” antes de ficar cinco anos de fortes emoções na editoria Geral do jornal “Notícias Populares” – foi de repórter policial a editor. Deixou a vida do crime na periferia e começou a editar a revista “Daslu”, na Trip Editora. Ficou na Trip de 2001 a 2017: 16 anos produzindo conteúdo para marcas como Itaú Personnalité, Mitsubishi, Pão de Açúcar, Natura, Gol Linhas Aéreas, entre outros. Já viajou bastante, dentro e fora do país, o suficiente para saber que o Brasil é seu lugar predileto.

Sobre o Blog

Como curtir a vida com dois filhos moleques (2 e 10 anos), viagens dentro e fora do Brasil e os caminhos de Bilhete Único em São Paulo -- já que o autor sabe dirigir revista, mas não dirige carros...

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