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Décio Galina

Postura grotesca de Bolsonaro ameaça vilões dos contos de fada

Décio Galina

15/01/2018 18h15

Juro que preferia ter estômago apenas para compartilhar as experiências cotidianas da paternidade e causos de viagem dentro e fora do Brasil, mas, infelizmente, vou ter que desviar um pouco do foco principal dessa aba do UOL.

Adoraria estar com o humor para detalhar como suei para correr atrás do Felipe, caçula de 3 anos, durante o segundo ato do musical A Bela e a Fera, no Teatro Bradesco, quando o menino não sentou um segundo sequer e ficava zanzando pelos corredores, pirando com as bolinhas de sabão e pedaços de papel que choviam do teto em determinadas cenas; também daria uma boa crônica como lidei com a saudade aguda que senti do Nícolas, primogênito de 10 anos, que passou a semana no litoral norte de SP com a mãe. Mas não, não dá.

Não dá para engolir e causa ânsia só de lembrar as palavras do presidenciável Jair Bolsonaro em entrevista publicada pela Folha de S. Paulo na sexta (12). "Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro de auxílio-moradia eu usava pra comer gente, tá satisfeita agora ou não?", respondeu ao ser questionado, de forma educada, sobre a utilização de verba da Câmara.

Show de horror

Talvez não seja necessário grafar aqui outras aspas completamente absurdas para uma pessoa que pretende dirigir um país, nem entrar no mérito de como enriqueceu na política. O fato é que o show de horror seguiu em outra entrevista, publicada no mesmo dia, com Luciano Bivar, presidente do PSL, sigla que deve ser usada por Jair na disputa pela presidência.

Segundo Bivar, não há problema algum se o candidato fez homenagem ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, sinônimo de repressão durante a ditadura militar. "Não sei se Ustra foi um torturador ou não…"; "…o povo clamou pelos militares"; "…a ameaça comunista era muito grande." Oi?

Repito, caro leitor, não é ideia deste espaço trazer temas políticos, nem puxar sardinha para X ou Y, mas pincelo esses frases supracitadas por pura indignação, que, inclusive, deveria ser de todos. Passei o fim de semana sem acreditar que chegamos a um ponto que esse tipo de comportamento pode ser considerado "normal". Mas, pense bem, não é normal.

Não é assim que se trata um repórter, nem é assim que se aborda o destino de dinheiro público. Não só não é normal como é chocante. Caso esse tipo de postura grotesca vire uma coisa corriqueira, teremos que rever o enredo dos contos de fada vigentes, pois as feras e os vilões atuais não vão assustar nem mesmo uma criança.

Sobre o autor

Paulistano de 1973, Décio Galina fez jornalismo na Cásper Líbero no início dos anos 1990 – os computadores chegavam à faculdade na época em que ele suava para passar nos testes do curso de datilografia do Senac. Trabalhou com Caco Barcellos na pesquisa do livro “Rota 66”. Passou alguns meses na “Gazeta Esportiva” antes de ficar cinco anos de fortes emoções na editoria Geral do jornal “Notícias Populares” – foi de repórter policial a editor. Deixou a vida do crime na periferia e começou a editar a revista “Daslu”, na Trip Editora. Ficou na Trip de 2001 a 2017: 16 anos produzindo conteúdo para marcas como Itaú Personnalité, Mitsubishi, Pão de Açúcar, Natura, Gol Linhas Aéreas, entre outros. Já viajou bastante, dentro e fora do país, o suficiente para saber que o Brasil é seu lugar predileto.

Sobre o Blog

Como curtir a vida com dois filhos moleques (2 e 10 anos), viagens dentro e fora do Brasil e os caminhos de Bilhete Único em São Paulo -- já que o autor sabe dirigir revista, mas não dirige carros...

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