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A vergonha de um clássico histórico do nosso futebol com torcida única

Universa

06/11/2017 12h44

Em clássico com torcida única, Corinthians dominou o Itaquerão (Foto: Alexandre Schneider/Getty Images)

Uma das ladainhas que canso de repetir para os moleques é a importância de eles saberem resolver as discussões, brigas e confusões com os amigos sempre de forma autônoma, buscando ajuda de adultos (pais, professores, etc) só em último caso. Insisto que o diálogo é sempre o melhor caminho para o entendimento, mesmo quando a vida nos coloca em situações mais agudas. Em outras palavras, violência não resolve nada.

Isso posto é difícil conseguir explicar para uma criança como pode uma porção de adultos não conseguir chegar a um consenso para frequentar de forma pacífica um estádio de futebol junto com torcedores do time adversário. Essa tristeza de "torcida única" entre os grandes times de São Paulo acontece desde abril do ano passado, quando mais um torcedor (que nem estava na briga) morreu por causa de uma bala perdida em um embate entre rivais.

As autoridades comemoram que desde então, com "torcida única", os índices de violência e confusão nos estádios durante os clássicos melhorara de forma significativa. Mas será que isso é motivo de celebração? Essa solução é algo como desistir de acreditar no diferencial do humano em relação aos outros animais que habitam a Terra: a capacidade de pensar, de ser racional, de entender as diferenças e não agir como um bando de guepardos famintos caçando na savana africana.

(Foto: Bruno Teixeira/Corinthians)

A vitória ontem do Corinthians sobre o Palmeiras, em um jogo espetacular, só não foi perfeita justamente porque só havia torcida do Timão de Itaquera. Como privar a torcida verde da Pompeia de uma partida tão importante como essa – ainda mais sendo o terceiro clássico no centenário do duelo mais esperado da cidade? O fato de o Corinthians ter vencido os três confrontos esse ano vai entrar para a história com essa mancha da "torcida única" – uma vergonha para uma espécie que se diz inteligente.

Pensando em uma mudança de postura das torcidas rivais no futuro, talvez caiba a nós, pais, educar a molecada de forma que se respeitem os adversários desde a infância. Essa coisa de encher a criança de camiseta de um time logo na maternidade pode não ser o melhor caminho. Digo isso com a experiência de uma família "rachada" entre os três principais times da cidade: Corinthians, Palmeiras e São Paulo – enquanto torço para o alvinegro de Parque São Jorge, a mãe do Felipe, meu caçula, é palmeirense doente, mesmo time que tem a torcida do meu pai; já a mãe do Nícolas, meu primogênito, é torcedora do Tricolor. Lidamos com as diferenças na base de muita brincadeira, deixando a decisão dos times que a molecada vai torcer mais para frente (embora o Nico já se mostre "naturalmente" corintiano… Ele está com 10 anos e basta um retrospecto rápido para ver tudo o que o Timão ganhou nesse período).

Independente dessa escolha, porém, acho que vale muito o esforço de todos para que essa situação seja alterada o quanto antes e, assim, as próximas gerações possam desfrutar desse programa básico que é ir a um estádio de futebol, assistir a um clássico e voltar vivo para casa.

 

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Sobre o autor

Paulistano de 1973, Décio Galina fez jornalismo na Cásper Líbero no início dos anos 1990 – os computadores chegavam à faculdade na época em que ele suava para passar nos testes do curso de datilografia do Senac. Trabalhou com Caco Barcellos na pesquisa do livro “Rota 66”. Passou alguns meses na “Gazeta Esportiva” antes de ficar cinco anos de fortes emoções na editoria Geral do jornal “Notícias Populares” – foi de repórter policial a editor. Deixou a vida do crime na periferia e começou a editar a revista “Daslu”, na Trip Editora. Ficou na Trip de 2001 a 2017: 16 anos produzindo conteúdo para marcas como Itaú Personnalité, Mitsubishi, Pão de Açúcar, Natura, Gol Linhas Aéreas, entre outros. Já viajou bastante, dentro e fora do país, o suficiente para saber que o Brasil é seu lugar predileto.

Sobre o Blog

Como curtir a vida com dois filhos moleques (2 e 10 anos), viagens dentro e fora do Brasil e os caminhos de Bilhete Único em São Paulo -- já que o autor sabe dirigir revista, mas não dirige carros...

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