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Décio Galina

Como a volta às aulas marca os capítulos da história de vida dos pais

Décio Galina

01/02/2018 16h25

Nícolas, Felipe e Décio fechando as férias de verão no Sesc Bertioga

A impressão que tenho é que o Nícolas, de 10 anos, não entende muito bem por que estou tão feliz/ansioso/emocionado na véspera da volta às aulas – afinal, é ele que retorna à escola, não eu. O moleque está prestes a iniciar o 5º ano. Aquele momento mágico em que a sua turma é a mais velha no futebol do recreio, mas você ainda é paparicado por um único professor, quase um ente da família durante o ano letivo. Em 2019, prepare-se, muda tudo: vai ser o mais novo na reta final do ensino fundamental e enfrentará um bando de professores, um por matéria, que não terão muito tempo para cuidar de seus receios e inseguranças.

No ônibus, a caminho da escola, desato a tagarelar uma série de instruções/lembretes/sugestões enquanto o menino, quieto, tem o olhar perdido em pessoas enroladas em cobertores sujos dormindo em pedaços de colchão sob o Minhocão. Fecho o bico e passo a pensar em como represar a cachoeira de ideias que está fluindo em minha cabeça e como realmente toca esse momento de levar o filho para se embrenhar nos estudos e descobertas do 5º ano.

No trecho a pé até a porta da escola, percebo que abraço o menino mais do que o normal, como se, de alguma forma, tentasse segurar aquele momento. Percebo também que já não é preciso curvar tanto as costas para abraçá-lo – impressionante como os filhos crescem nas férias… Na porta da escola, resolvo resumir tudo a uma palavra só. Seguro o moleque, peço para ele me olhar um instante e digo: aproveite. Nunca deixe de aproveitar a vida, meu filho.

Samambaia no canto da mesa

O fim de janeiro traz também a emoção do retorno às aulas do caçula Felipe, de 3 anos. Na reunião de pais, a preocupação é como regular o sono da tarde das crianças, como estancar a balbúrdia dos horários que se instalou durante as férias e como será a rotina no novo espaço da escola, ocupado por crianças maiores, de até 7 anos. O moleque está elétrico como nunca e dá um nó na garganta imaginar o tanto que vai se desenvolver durante o ano – deixa de ser um bebê, uma criancinha pequena… (quando fica impossível levar no colo, por exemplo).

É nesse cenário que me despeço desse espaço, frequentado por cerca de cinco meses. Recebi um retorno do portal que os números não estão bons, precisam cortar alguns blogs e paternidade não dá ibope. Pena. Confesso que nunca tinha pensado em escrever esse tipo de texto sobre experiências cotidianas com a filharada – e gostei da brincadeira.

Paternidade talvez não dê o ibope necessário, pois ainda vigora no senso comum da classe média que é a mãe que deve estar mais próxima aos filhos. Ainda é normal existir shopping que cria um espaço e convida os pais a beberem cerveja enquanto as mães limpam os filhos no fraldário. E tudo bem também se o pai sair para trabalhar antes de o filho acordar, e voltar pra casa depois que ele estiver dormindo – afinal, alguém precisa prover a família. Aí, chega o fim de semana e é melhor levar a babá ao parque, pois a criança mal tem intimidade com o pai. E, no restaurante, é sempre bom ter o celular à mão para hipnotizar o filho com uma galinha pintadinha e deixá-lo como uma samambaia no canto da mesa.

Agradeço o convite do UOL, a atenção da leitura de vocês e o alto astral que permeou a troca de experiências durante esse período. Saúde a todos em 2018!

Sobre o autor

Paulistano de 1973, Décio Galina fez jornalismo na Cásper Líbero no início dos anos 1990 – os computadores chegavam à faculdade na época em que ele suava para passar nos testes do curso de datilografia do Senac. Trabalhou com Caco Barcellos na pesquisa do livro “Rota 66”. Passou alguns meses na “Gazeta Esportiva” antes de ficar cinco anos de fortes emoções na editoria Geral do jornal “Notícias Populares” – foi de repórter policial a editor. Deixou a vida do crime na periferia e começou a editar a revista “Daslu”, na Trip Editora. Ficou na Trip de 2001 a 2017: 16 anos produzindo conteúdo para marcas como Itaú Personnalité, Mitsubishi, Pão de Açúcar, Natura, Gol Linhas Aéreas, entre outros. Já viajou bastante, dentro e fora do país, o suficiente para saber que o Brasil é seu lugar predileto.

Sobre o Blog

Como curtir a vida com dois filhos moleques (2 e 10 anos), viagens dentro e fora do Brasil e os caminhos de Bilhete Único em São Paulo -- já que o autor sabe dirigir revista, mas não dirige carros...

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