Levar e buscar o filho na escola - as maravilhas de um dia "normal"

(Foto: iStock)
Segunda-feira, início de setembro, nada de espetacular, certo? Errado. Os dias especiais e os momentos de felicidade extrema, férias, essas maravilhas do calendário, só são realmente importantes se damos o devido valor aos dias ordinários, às tarefas repetitivas do cotidiano.
O lado incrível do dia a dia comum pode ser mais facilmente perceptível ao levar e/ou buscar os filhos na escola. Nícolas, meu moleque mais velho, estudante do 4º ano, já sabe de cor o mantra que disparo sempre um pouco antes de deixá-lo no portão: "Preste muita atenção na aula, participe, não volte com dúvidas para a casa." Um beijo rápido na bochecha e lá vem aquela imagem do moleque de costas, com a mochila pendurada, e você ali parado, como um jequitibá, ruminando por segundos a boa sensação de cumprir a contento mais uma agenda do dia. Os primeiros passos rumo aos próximos compromissos sempre trazem uma leveza misteriosa, algo do tipo, "fiz a coisa mais importante do dia, agora estou pronto para o resto." Preciso confessar que já me peguei com um sorriso nos lábios, sozinho, na calçada rumo ao ponto de ônibus.
Semana passada, peguei o Felipe, quase 3 anos, caçula, na saída da escola, e voltamos a pé — até onde ele aguentou; depois, fui obrigado a colocar os 14 quilos de filho no braço e me virar para chegar em casa. No caminho (o mesmo que fiz tantas vezes com o mais velho), passei por uma banca de jornal onde o Nico comprou centenas de pacotes de figurinhas ao longo dos anos — tantos que fiquei amigo do japonês dono da banca. Mal pude parar para cumprimentá-lo, apenas apontei para o loirinho do Felipe, que não para quieto um segundo perto da avenida, querendo dizer que estava começando tudo de novo, agora que o Nico já está grande, em outra escola.
O Felipe nem imagina isso ainda, mas o nome dele apareceu justamente em um dos pacotinhos de figurinhas comprados pelo Nico… Era um álbum de futebol e o Nico, hoje com 10 anos, estava começando a aprender a ler. Já não me recordo de onde era o jogador, mas sei que o moleque pegou uma figurinha e começou a ler: Fe-li-pe! De repente, a primeira palavra que ele leu na vida! Emocionado, liguei para a mãe dele (que não é a mesma mãe do Felipe) para contar a novidade da primeira leitura! Não menos emocionado liguei para a mãe do Felipe para sugerir esse nome para o bebê que ela carregava na barriga — e ela topou!
Esse dia, que, claro, não lembro mais quando foi (não sou de anotar num caderninho coisas do tipo "hoje meu filho andou"), é uma boa prova de como os dias aparentemente "normais" podem trazer surpresas fantásticas. E, mesmo que não tragam, são justamente eles, os dias ordinários como hoje, que montam tijolinhos quase invisíveis na construção desse amor gigantesco entre pais e filhos. Uma boa segunda para todos nós.
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