Como a volta às aulas marca os capítulos da história de vida dos pais
A impressão que tenho é que o Nícolas, de 10 anos, não entende muito bem por que estou tão feliz/ansioso/emocionado na véspera da volta às aulas – afinal, é ele que retorna à escola, não eu. O moleque está prestes a iniciar o 5º ano. Aquele momento mágico em que a sua turma é a mais velha no futebol do recreio, mas você ainda é paparicado por um único professor, quase um ente da família durante o ano letivo. Em 2019, prepare-se, muda tudo: vai ser o mais novo na reta final do ensino fundamental e enfrentará um bando de professores, um por matéria, que não terão muito tempo para cuidar de seus receios e inseguranças.
No ônibus, a caminho da escola, desato a tagarelar uma série de instruções/lembretes/sugestões enquanto o menino, quieto, tem o olhar perdido em pessoas enroladas em cobertores sujos dormindo em pedaços de colchão sob o Minhocão. Fecho o bico e passo a pensar em como represar a cachoeira de ideias que está fluindo em minha cabeça e como realmente toca esse momento de levar o filho para se embrenhar nos estudos e descobertas do 5º ano.
No trecho a pé até a porta da escola, percebo que abraço o menino mais do que o normal, como se, de alguma forma, tentasse segurar aquele momento. Percebo também que já não é preciso curvar tanto as costas para abraçá-lo – impressionante como os filhos crescem nas férias… Na porta da escola, resolvo resumir tudo a uma palavra só. Seguro o moleque, peço para ele me olhar um instante e digo: aproveite. Nunca deixe de aproveitar a vida, meu filho.
Samambaia no canto da mesa
O fim de janeiro traz também a emoção do retorno às aulas do caçula Felipe, de 3 anos. Na reunião de pais, a preocupação é como regular o sono da tarde das crianças, como estancar a balbúrdia dos horários que se instalou durante as férias e como será a rotina no novo espaço da escola, ocupado por crianças maiores, de até 7 anos. O moleque está elétrico como nunca e dá um nó na garganta imaginar o tanto que vai se desenvolver durante o ano – deixa de ser um bebê, uma criancinha pequena… (quando fica impossível levar no colo, por exemplo).
É nesse cenário que me despeço desse espaço, frequentado por cerca de cinco meses. Recebi um retorno do portal que os números não estão bons, precisam cortar alguns blogs e paternidade não dá ibope. Pena. Confesso que nunca tinha pensado em escrever esse tipo de texto sobre experiências cotidianas com a filharada – e gostei da brincadeira.
Paternidade talvez não dê o ibope necessário, pois ainda vigora no senso comum da classe média que é a mãe que deve estar mais próxima aos filhos. Ainda é normal existir shopping que cria um espaço e convida os pais a beberem cerveja enquanto as mães limpam os filhos no fraldário. E tudo bem também se o pai sair para trabalhar antes de o filho acordar, e voltar pra casa depois que ele estiver dormindo – afinal, alguém precisa prover a família. Aí, chega o fim de semana e é melhor levar a babá ao parque, pois a criança mal tem intimidade com o pai. E, no restaurante, é sempre bom ter o celular à mão para hipnotizar o filho com uma galinha pintadinha e deixá-lo como uma samambaia no canto da mesa.
Agradeço o convite do UOL, a atenção da leitura de vocês e o alto astral que permeou a troca de experiências durante esse período. Saúde a todos em 2018!
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